Já ouviu, pelo menos uma vez na vida, a frase “Ah! Essa mulher gosta de sofrer!”, “Não entendo porque minha amiga continua com ele”, “Por que eu sempre volto”? Essa e diversas outras crenças populares acerca da forma como as mulheres lidam com relacionamentos abusivos são constantemente trazidas à tona toda vez que relações violentas são colocadas em pauta.

Os questionamentos sobre porque mulheres continuam em relacionamentos abusivos são imensos e os julgamentos ainda maiores. Mas a verdade é que os fatores que dificultam sua saída são diversos e podem, inclusive, se sobrepor, dificultando ainda mais o fim. Vamos a alguns deles:

O jogo do abuso

Na fase da lua de mel do ciclo do abuso, o abusador se mostra arrependido, tem atitudes românticas a fim de compensar a vítima pela violência e até mesmo com o intuito de convencê-la de que o abuso acabou. Nesse momento acontece também a romantização do relacionamento e a manipulação, por parte do homem, culpabilizando a mulher por suas atitudes agressivas. A vítima, então, vive os efeitos psicológicos como culpa e esperança, e acha que, se ela mudar, a relação dará certo.

Apego e dependência emocional

O relacionamento abusivo causa, além de todos os seus transtornos, a dependência emocional. Nele, a mulher se torna viciada emocionalmente. Como consequência desse vício, há a abstinência, a dificuldade de se afastar, o medo de não conseguir estar sozinha e a sensação de que não é possível a vida longe do parceiro abusador. Essa dependência, ao contrário do que muitos pensam, não é porque você ou sua amiga “gostam de sofrer”.

A dependência emocional também pode ser gerada a partir da história de vida traumática da vítima: ter vivido abusos e negligências, traumas, vínculos complexos familiares, entre outros eventos, que geram sentimento de carência, um “buraco” emocional e afetivo e muita dificuldade em quebrar vínculos.

Romantização

Romantizar o relacionamento é reflexo da esperança de mudança no parceiro, um dos efeitos psicológicos do abuso. Com a romantização, a mulher tem lembranças sugestionadas pelas memórias afetivas, esquecendo ou relativizando a violência, ou seja, só se lembra dos momentos da lua de mel e das raras migalhas de afeto que recebeu.

Efeitos psicológicos do abuso

Os efeitos psicológicos vêm colados à violência. Juntamente com o abuso, podemos perceber o medo gerado pelas ameaças do abusador, a esperança de que ele vai mudar, a culpa por achar que não fez o suficiente pra relação dar certo e a confusão mental, gerada pelo ciclo de abuso, pelas mudanças de comportamento do abusador e pelo não entendimento do que está realmente acontecendo. Isso tudo faz com que a vítima duvide de si mesma e volte atrás na decisão de terminar.

Abstinência

Os padrões de um relacionamento abusivo fazem com que a rotina da vítima gire em torno do abusador, gerando perda de individualidade, falta de energia para investir em si mesma, perda do limiar do que é ou não aceitável e distanciamento dos seus verdadeiros desejos e vontades. O abuso também faz com que a mulher se isole socialmente e perca a rede de apoio que seria capaz de alertá-la e até salvá-la da violência. Quando o relacionamento termina, é compreensível que a vítima entre em fase de abstinência, já que o abuso tomou conta de todos os espaços da sua vida.

Cultura: o que aprendemos na sociedade

A sociedade reforça estereótipos que afundam as mulheres, cada vez mais, em relacionamentos abusivos e inspiram, por exemplo, medo da solidão ou impossibilidade de ser feliz sozinhas. Como se a mulher só fosse inteira se estiver com um homem ao lado, mesmo que seja um homem abusador.

Regras religiosas, noção cristã de perdão e o papel da mulher como cuidadora e provedora do perdão e do amor que a tudo suporta e tudo muda, também faz com que as mulheres permaneçam na violência.

Falta de uma rede de apoio

Uma rede de apoio qualificada com amigos, familiares e profissionais especializados têm o poder de salvar uma mulher do abuso.  Quando existe o término, o peso da decisão e o julgamento cai sempre na vítima, que se sente insegura para continuar a vida sem a relação e também não tem seus sentimentos validados. Lembra das frases que falamos no início do texto? Esse tipo de pensamento social convence a mulher de que ela está errada, culpada e que deve retomar o relacionamento.

Transmissão geracional

A transmissão geracional é um processo de aprendizagem e memória de padrões entre gerações. Isso significa que a violência que vivemos agora interfere nas próximas gerações: filhas de casais em relações violentas, quando também entram em relacionamentos abusivos, demoram mais para perceber e conseguir sair da relação, pois aprenderam a amar de forma violenta. Já os filhos homens têm 4 vezes mais chances de se tornarem abusadores, pois tiveram como modelo de aprendizagem o pai abusivo.

Outros fatores

O relacionamento abusivo causa danos à autoestima, autoconfiança e à identidade da mulher. Tudo isso gera insegurança e a sensação de ter se perdido de si mesma, resultando na ideia de que não há vida após o abuso. Outros fatores como dependência financeira e falta de contato zero também dificultam essa saída.

Como ajudar e não julgar?

Todas essas características de um relacionamento abusivo, aliadas à visão social sobre o tema contribuem para que cada vez mais mulheres sejam vítimas de relações violentas e controladoras.

Para mudar essa realidade, a Não Era Amor aposta na informação como ferramenta libertadora e também na desromantização de violências sutis, que muitas vezes são tomadas como cuidados e amor. Por isso, o nosso questionamento diário não é quando as mulheres vão acordar, mas sim, quando os homens vão parar de abusar.


Redação: Thay Tanure, Redatora da Não Era Amor
Conteúdo e revisão: Laís Pereira, Psicóloga da Não Era Amor

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Vivemos em uma sociedade potencialmente abusiva. Nela, o abuso é reforçado e naturalizado a todo momento, podendo se manifestar de forma bastante sutil e até mesmo “socialmente aceita”. Esse tipo de violência velada e mascarada pelo machismo em que estamos inseridos torna ainda mais difícil a identificação e punição de um abusador, dando a ele munição e espaço para piorar e escalonar seus atos machistas e violentos.

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