Sabe quando você está passando por situações em que não se sente confortável e o seu corpo reage a elas? Essa reação pode ser de diversas maneiras, como retrair, sentir-se mal, chorar. Isso acontece porque tal desconforto, principalmente quando relacionado ao abuso, tem impactos diretos na nossa saúde física e também mental. Apesar de poucos estudos nessa área, é cientificamente comprovada à relação entre situações de violência e relacionamentos abusivos com alterações na mente levando, em muitos casos, até mesmo ao suicídio.
Isso acontece porque vivenciar a violência causa problemas físicos e psicológicos, como o transtorno do estresse pós-traumático, o transtorno de ansiedade e a depressão. Não à toa, tais consequências são consideravelmente presentes entre as mulheres.
Relacionamento abusivo e suicídio
Em um estudo realizado (Budak et al., 2018) com mulheres em diferentes províncias da Turquia, foi constatado que todas que afirmaram ter tentado suicídio haviam sido expostas a algum tipo de violência. Dentre os números alarmantes, também foi descoberto que existe uma correlação estatisticamente significativa entre violência verbal, física, financeira e sexual e a probabilidade de suicídio. Isso significa que com o aumento da violência contra as mulheres, a probabilidade de suicídio também é maior.
Ainda de acordo com esse estudo, recomenda-se aumentar a consciência e desenvolver uma atitude e um comportamento consciente em relação à violência, fornecendo treinamento e muita informação para as mulheres. Quando dizemos que “onde há silêncio, há violência e onde há informação, há liberdade”, é disso que estamos falando.
Por isso, é tão importante trazer o tema à tona e levar conhecimento sobre o assunto, afinal, é por meio dele que cada vez mais vítimas conseguirão acesso às ferramentas emocionais que permitirão sua saída do abuso.
Fatores de risco e de prevenção
O assunto suicídio tem sido cada vez mais discutido, seja por meio de campanhas, nos estudos e pesquisas sobre a temática e principalmente no dia a dia das psicólogas na prática clínica.
A partir dessa vivência, é comprovado que passar por relacionamentos abusivos causa problemas físicos, cerebrais, sociais e psicológicos, o que relaciona diretamente as situações de violências vividas pelas mulheres aos fatores risco de suicídio como:
o Estar em um relacionamento abusivo
o Dependência financeira e isolamento social
o Aumento na duração do casamento é igual ao aumento no risco de suicídio, mulheres casadas por muito tempo chegam a esgotamento e isso aumenta as ideações suicidas (Budak et al., 2018).
o Disparidade de idade entre os parceiros (quando o homem é muito mais velho), (Budak et al., 2018)
o Escalonamento do abuso (o agravamento da violência leva a um aumento das tentativas de suicídio, pois é uma forma de enfrentamento ou fuga). (Budak et al., 2018)
o Coabitação: morar junto com o parceiro abusivo leva ao aumento do medo e da sensação de aprisionamento (Devries et al., 2013)
Em contraponto aos fatores de risco, há também os fatores de proteção, que vão desde identificar potenciais comportamentos suicidas até cuidados e estratégias para lidar com a situação e diminuir a chance da ideação se concretizar. São eles:
o Apoio social, redução do isolamento social e sentimento de pertencimento a uma comunidade; (Zortea 2017; O’Connor & Sheehy, 2000)
o Treinamento especializado de profissionais para identificar experiências de violência como fator que aumenta a probabilidade de tentativas de suicídio (Devries et al., 2011 ; Budak et al., 2018)
o Treinamento especializado de profissionais para tratar as consequências do abuso de forma adequada (Devries et al., 2011)
o Conscientização das mulheres sobre abuso e suas diferentes formas de manifestação (Budak et al., 2018)
Informar as mulheres é uma questão de saúde
Você sabia que a cada 3 mulheres uma vai sofrer ou já sofreu algum tipo de abuso?
Isso significa um número enorme de pessoas que estão ao seu lado, passando por isso e que talvez ninguém perceba, inclusive você. Falar sobre relacionamento abusivo é uma questão de saúde, pois é por meio do conhecimento que conseguiremos fortalecer e proteger as mulheres.
A informação liberta, alerta e previne, tanto do suicídio quanto do feminicídio. Por isso, a Não Era Amor tem o propósito de alcançar o máximo de mulheres possíveis para conversar, acolher e mostrar o caminho seguro para uma vida sem abuso e mais: uma vida viva.
Quer saber mais sobre suicidologia?
Indicamos o Thiago Zortea , psicólogo brasileiro e pesquisador na Universidade de Glasgow. Você encontra ele aqui.