Quando você me conta das dificuldades por estar vivendo uma relação na qual você é humilhada, criticada, oprimida, ferida e abusada, é o meu coração que dói.
Quando você me diz das dificuldades para se sentir uma boa mãe, para entregar o melhor para os seus filhos, pois o seu melhor está sendo sugado e abafado pelo abuso, é o meu coração que dói.
Quando você me fala que não acredita mais em amores possíveis e em relações saudáveis, porque ao invés do apoio você experimentou a ausência e/ou a agressão, porque ao invés do colo, você viveu o abandono; é o meu coração que dói.
Quando você questiona a sua capacidade de estudar, de compreender e de se desenvolver profissionalmente porque te fizeram acreditar que você é burra, inferior e limitada, é o meu coração que dói.
Quando você se pergunta se está ficando louca ou se tudo o que está vivendo, porque te fizeram acreditar que você é desequilibrada, é o meu coração que dói.
Se eu pudesse dizer para todas as mulheres que eu já atendi e ainda atendo que é no meu corpo que eu sinto todas as emoções intensas que trabalhar com mulheres em situação de violência evoca, eu diria que é o meu peito que aperta, é a minha face que arde de raiva, é o meu estômago que se contorce com a injustiça e é o meu coração que dói.
Saiba que o meu coração já sentiu exatamente o que o seu coração sente, e é por isso que ele dói. E, mesmo doendo, ele continuou a pulsar esperançoso por dias mais amenos e cheios de amor. O meu coração que dói, anseia que o seu coração se cure, e veja o quão transformador esse processo foi.
Digo tudo isso sem romantizar a dor e o sofrimento: apenas desejando que você se livre da dor e do sofrimento, que seja feliz e que volte a brilhar.
Porque brilhar é o que os corações que doem fazem, depois que a dor passa <3
Um abraço afetuoso,
Mariana Bilia – psicóloga clínica, especialista em análise do comportamento e parte do time Não era Amor