Sabe aquele relacionamento super controlador onde todo o cerceamento é tratado como cuidado? Ou quando você tem certeza de algo e tentam te convencer do contrário? Já ouviu frases como “você é louca”, “não foi bem assim que aconteceu”, “você entendeu errado”, “não foi isso que eu quis dizer” ou até mesmo “você tem péssima memória, não aconteceu assim”? Tudo isso pode ser sintoma de um tipo de abuso psicológico muito comum: o gaslighting. Nele, somos manipuladas e convencidas de que estamos agindo fora da normalidade, que somos culpadas por algo que não fizemos, ou até mesmo que nossa noção de realidade é distorcida.
Afinal, o que é Gaslighting
O termo surgiu para evidenciar uma das formas de violência psicológica existente no contexto dos relacionamentos abusivos. Com base na peça de teatro “Gas Light” e em sua adaptação para o cinema, o nome faz alusão ao enredo contado, no qual o marido tenta manipular sua esposa, fazendo com que ela pense que está louca. Assim como nas telas, o gaslighting acontece na vida real quando o abusador, do alto de seu excesso de poder e de sua hierarquia na relação, usa as suas próprias palavras contra a vítima, manipula os fatos, distorce os acontecimentos e tenta fazer com que ela desacredite de si mesma, consolidando ainda mais o poder que ele possui sobre ela e a deixando cada vez mais dependente e submersa no abuso.
O Gaslighting como abuso psicológico
A manipulação, como o próprio nome já diz, é realizada de forma sutil e refinada, sem que a vítima perceba que está sendo conduzida sobre o que sentir, fazer, falar e agir ou até de forma explícita. Um dos clássicos do gaslighting é o famoso “você está louca!”. O objetivo aqui é fazer com que a mulher questione a própria realidade e duvide de si mesma, dessa forma é mais difícil que ela veja o abuso que está sofrendo, portanto, é também mais difícil que dê um basta na violência.
Dessa forma, a violência psicológica se torna quase impossível de ser detectada, já que o abusador distorce, mente, manipula até que a vítima pense que está errada ou maluca, pois o gaslighting tende a diminuir e confundir os sentimentos do outro, dando cada vez mais poder e controle à quem abusa.
Outra característica do gaslighting que também é inerente ao relacionamento abusivo é o ciclo da violência. Nele, a fase de lua de mel está sempre presente: momento no qual o abusador tenta compensar a vítima pelo abuso, mudando radicalmente de comportamento, fazendo agrados e promessas. Essa fase prepara a mulher para os abusos que estão por vir e faz com que ela se sinta confusa quanto à violência e crie esperanças de mudança, se mantendo ainda mais tempo no relacionamento.
Os impactos do Gaslighting
Alguma das características citadas acima já esteve presente em seu relacionamento? Então, é preciso estar de olho. Por mais que o gaslighting possa aparecer de forma sutil, ele também se revela explicitamente e, nos dois casos, existe a possibilidade de que haja um escalonamento da violência, bem como o refinamento do abuso.
Na prática, isso quer dizer que mesmo que o abuso fique cada vez mais imperceptível, em contraponto ele também fica mais violento. Ou seja, o abusador não deixou de abusar, apenas refinou a violência e manipulação para que a vítima perceba cada vez menos que está vivendo o abuso. Assim, ele ganha ainda mais controle, enquanto a mulher descola da realidade e perde o limiar do que é ou não aceitável. Além disso, quanto mais sutil esse tipo de abuso, maior a chance de que as vítimas não se reconheçam verdadeiramente como vítimas e maior também é a a culpa, a confusão e a esperança.
Saber sobre gaslighting é o primeiro passo para se proteger
Por ser um dos tipos de abuso psicológico, é comum que seja difícil de ser percebido, principalmente pela essência do gaslighting: a manipulação. Isso é, quem está sendo manipulada quase sempre não percebe o jogo do manipulador.
Por isso, é tão importante usar a informação a nosso favor. Sabendo como o gaslighting se dá é mais fácil perceber os sinais, as características e a forma como ele acontece e, assim, há uma possibilidade maior de dar um basta no abuso. Passe a palavra da Não Era Amor adiante e ajude mais mulheres a se libertarem!
Redação: Thay Tanure, Redatora da Não Era Amor
Conteúdo e revisão: Pollyanna Abreu, Psicóloga e Fundadora da Não Era Amor