Esse é um texto para te dizer que é possível. Por mais que a confusão tome o lugar da esperança. Que os pensamentos não se aquietem. Que os sentimentos pareçam incontroláveis. Mesmo que exista culpa, medo, julgamento e a pressão social. Até quando você pensar que o controle exercido sob você é maior do que a sua força para se libertar. Nós estamos aqui para dizer, afirmar e reafirmar: sair de um relacionamento abusivo pode não ser fácil, mas é possível.
Uma relação onde há abuso é marcada por diversos efeitos psicológicos: culpa, medo, vergonha, esperança… Cada um deles age de forma a reforçar que você continue na violência. Nós sabemos, pode ser que alguma parte de você tenha sido perdida ou que sua autoestima esteja minada, a capacidade de tomada de decisão abalada e que a autoconfiança tenha sido aniquilada. Mas você já está aqui. O primeiro passo já foi dado e a retomada do controle em suas mãos, agora é só questão de tempo.
Você não está sozinha
Perceber-se em um relacionamento abusivo causa vergonha. Talvez por isso você nunca tenha contado para ninguém, nem para aquela amiga próxima ou até nem tenha admitido totalmente a existência da violência para si mesma.
Assim como você, diversas mulheres também têm receio de contar sobre os abusos que vivem, o que dá a falsa sensação de que só o seu relacionamento está errado. Então, se agarre nessa garantia que nossos anos de Não Era Amor vão lhe dizer: você não é a única que passa por isso. Então, que tal começar ligando para uma amiga de confiança para desabafar sobre tudo que se passa em sua vida?
Acreditar é o segredo para se liberar
Da mesma forma que milhares de mulheres estão passando pela mesma coisa que você, outras tantas conseguiram sair dessa situação. Agarre-se firme naquela pontinha de força que ainda lhe resta e encontre dentro de você a confiança que precisa para escolher o melhor caminho a seguir.
Informação é liberdade
Sabemos como pode ser difícil se reconhecer e se enxergar como vítima e alvo de um abusador, principalmente se estiver sofrendo violência sutil. Mas só a partir dessa visão que se torna possível sair desse papel, recuperar o controle das suas próprias decisões e voltar ao centro da sua vida.
Para sair do abuso você precisa primeiro saber que está dentro dele. E existe apenas uma forma de saber: se informando sobre o tema. A informação aqui é a sua principal aliada para conseguir entender o que está passando, descobrir os recursos que irão te fortalecer e assim colocar um basta na violência.
Invista na sua independência financeira
A dependência financeira pode dificultar que você saia do abuso. O indicado nesse passo é que você invista, mesmo que aos poucos, em retomar o trabalho e a carreira. Ter o seu próprio salário te dá condições para sair do abuso e impede que o seu parceiro use dinheiro para te manipular ou ameaçar.
Lembre-se sempre de pedir ajuda quando necessário, existem políticas públicas que podem te auxiliar e também advogadas que atendem sem custo (defensoria pública). Procure redes de apoio social para recomeçar!
O medo e a dependência emocional fazem parte do abuso
Você pode estar pensando: por que mesmo depois de tudo eu ainda sinto falta dele? A dependência emocional não é sua culpa, ela é decorrente dos padrões do relacionamento abusivo, que fazem com que a rotina da vítima gire em torno do abusador, gerando perda da individualidade, falta de energia para investir em si mesma, perda do limiar do que é aceitável ou não e até mesmo dos seus desejos e vontades.
Além disso, quando se está em um relacionamento abusivo é comum que também esteja em isolamento social, o que faz com que você veja o abusador como a sua única rede de apoio. Neste ponto é habitual achar ou ser convencida pelo próprio parceiro de que não vai conseguir sozinha, ter medo de não ser forte o suficiente e medo das inúmeras ameaças que ele faz, seja contra você ou contra si mesmo. E é possível até que você não sinta medo algum e diminua o real risco do que esteja vivenciando, isso ocorre porque o cérebro da mulher que passa por violência fica com excesso de adrenalina e, por isso, desliga a chave do medo. Porém o perigo continua sendo real, portanto, não hesite em registrar um boletim de ocorrência e buscar ajuda.
Contato zero ou contato mínimo
Para você que quer retomar sua vida e se fortalecer, a Não Era Amor criou uma estratégia chamada Contato Zero, que é indicada quando a mulher está terminando ou já terminou a relação e tem como objetivo a ausência total de proximidade com o abusador, seus familiares e amigos. Em caso de mulheres com filhos, adaptamos para o Contato Mínimo onde os diálogos existem apenas para lidar com a temática relacionada à paternidade.
E por falar em filhos, queremos te lembrar que uma boa mãe é uma mãe feliz. Portanto, é justamente por eles que você não deve continuar em uma relação violenta. Além disso, existe uma transmissão geracional que faz com que relacionamentos abusivos, gerem mais relacionamentos abusivos, ou seja, caso sua filha entre em uma relação violenta ela tem mais chance de demorar para sair dela. Isso também faz com que o seu filho aprenda em casa a ter comportamentos abusivos. Pense nisso: quando você se liberta, você também está libertando as próximas gerações.
Faça terapia especializada
Além de te ajudar no processo de autoconhecimento, a terapia especializada coloca uma lupa sobre o abuso. Por meio dessa análise clínica, é possível perceber a dinâmica do relacionamento abusivo, o ciclo da violência, avaliar os riscos da relação e até traçar estratégias para que o término seja feito de forma mais segura para você.
A terapeuta especializada também tem conhecimentos específicos sobre os padrões e os riscos que representam à sua saúde física e psicológica. Sendo assim, ela tem informação para reconhecer o relacionamento como abusivo e não usar de ferramentas indicadas para relações saudáveis, evitando que o abuso seja reforçado, a vítima culpabilizada e os danos psicológicos potencializados.
Não pense que ele deixará de ser abusivo no término
A sua esperança deve existir apenas quando ela for voltada para você, para sua autonomia e para o seu processo de libertação da violência. Não cultive a esperança de que seu parceiro deixará de ser abusivo no término ou que o afastamento fará com que ele mude. Estudos mostram que na maioria dos casos o abuso continua e, inclusive, pode escalonar. Consequentemente, esse término não será da mesma forma que colocar o fim em um relacionamento saudável. Sendo assim, estar munida de informação e fortalecida com a terapia especializada pode te ajudar.
Não se culpe pelas escolhas que te trouxeram até aqui
Vamos combinar uma coisa para você anotar e nunca mais esquecer: o único culpado pelo abuso é o abusador. Isso significa que as atitudes violentas dele não são reflexo do seu jeito ou dos seus atos. O abuso não acontece porque você “permitiu”, mas sim porque na sua relação havia discrepância de poder e o seu parceiro usou disso para te controlar e te manipular.
Nós sabemos que essa culpa vai aparecer, ela é efeito psicológico do abuso e vem coladinha à ele. Por isso, vamos te dar uma dica: pratique autocompaixão. Por meio dela você conseguirá lidar melhor com críticas, com a vergonha, a depressão e consequentemente com a culpa. Você pode encontrar na internet diversos conteúdos sobre o tema, meditações guiadas autocompassivas e, é claro, muito conteúdo aqui em nosso blog e também no Instagram. Para te ajudar nesse pontapé inicial, que tal começar pelo livro “Um coração sem medo”?
Lembre-se que existe vida após o abuso
Pare para pensar e se lembrar de quem você era antes de entrar em um relacionamento abusivo. Suas vontades, seus sonhos, a leveza que sentia em poder simplesmente ser. Retome a conexão com a sua essência. Repare no que o seu interior quer te dizer. Dê ouvidos, entenda, se conecte. Descubra, dia a dia, um pouco mais sobre quem você é, seus sonhos, sua individualidade, sobre o que te faz bem e também aquilo que não cabe mais dentro da sua vida.
Comece agora. Inicie fazendo o que é possível, o que você dá conta e vá, aos poucos, voltando a sua atenção, seu cuidado e seu afeto para dentro.
Recomece e se reconecte. Por você. Por nós. Por todas. Um dia de cada vez. Estamos aqui para te lembrar que é possível! <3
Redação: Thay Tanure, Redatora da Não Era Amor
Conteúdo e revisão: Pollyanna Abreu, Psicóloga e Fundadora da Não Era Amor