Incertezas sobre si mesma, confusões sobre o que você está ou não vivendo, sensação de estar sempre errada, pedidos constantes de desculpas, tentativas de controle dos seus sentimentos por parte do seu parceiro…. Você até tenta acreditar que essas são situações normais, mas no fundo sabe que existe algo errado por trás de tantas dúvidas. Sim, há algo bem errado, você está vivendo um abuso psicológico sutil.
Antes de entrar na forma menos evidente, você precisa saber primeiro o que é um abuso psicológico. Essa forma de violência é caracterizada quando uma pessoa causa danos ou visa causar dano à individualidade, privacidade, autonomia, identidade e autoestima da outra pessoa em um relacionamento abusivo.
Também conhecido por violência emocional, esse tipo de abuso vem em formas de xingamentos, controle, posse, chantagens, humilhações e manipulações. Frases como “Troca essa roupa”, “Você é burra”, “Ir ao bar com suas amigas é coisa de puta, “Você não serve pra nada”, “Se você não transar comigo eu vou procurar na rua” entre outras, são alguns exemplos explícitos.
Com a palavra, a Não Era Amor
A Não Era Amor separa o abuso sutil e o explícito de acordo com o que vemos em nossa experiência. Essa definição leva em conta vivências e atitudes aceitas ou não pela sociedade.
É importante lembrar que a forma como o abuso é percebida pode variar de acordo com a história de vida de cada pessoa. O importante aqui é saber que independente de como ele apareça, é tudo considerado abuso e não há tipos melhores ou piores de abuso.
O abuso psicológico sutil
O abuso psicológico sutil é um pouco mais difícil de ser detectado, pois como a própria definição diz, aparece escondido. Isso acontece porque ele vem disfarçado de sentimentos como preocupação, amor e zelo. Para detectá-lo precisamos prestar atenção na intenção escondida em cada uma das falas e atitudes fantasiadas de cuidado e proteção. Vamos à algumas delas:
“Essa amizade não te faz bem”, “Cuidado com essa amiga, não gosto dela” “Não é ciúme, eu cuido do que é meu”
Sempre que se aproxima de alguém ele começa a falar mal dessa pessoa? A intenção aqui é a posse, o ciúme e o isolamento. É importante lembrar que esse afastamento de amigos e família faz com que a vítima demore ainda mais para se livrar de um relacionamento abusivo, já que está isolada de quem a ajudaria a sair dele. Além disso, há também o tratamento da mulher como um objeto, como se ela fosse propriedade do abusador.
“Você pode fazer mestrado, mas meu gosto musical é bem melhor” Você tem certeza de que fez exame psicológico pra entrar nesse emprego? “Você está muito magra” “Você está muito gorda”
Seu parceiro diminui suas conquistas, menospreza sua competência e inteligência e sempre te compara a ele? Ou ainda faz comentários pejorativos sobre a sua aparência e tenta moldar você para se encaixar no padrão que ele julga perfeito? Essa é uma forma de te fazer achar que ele é superior à você. Por trás dessas frases a sua autoestima física e intelectual é minada, você se sente inferior, enquanto ele fica ainda mais poderoso e com mais espaço em sua vida e suas escolhas.
“Como você distorce a realidade, a gente nem pode fazer uma simples brincadeira”
Não te deixar falar, ridicularizar suas opiniões e debochar dos seus sentimentos para depois falar que era apenas uma brincadeira. Ele também faz você desacreditar da sua sanidade mental e deixar de lado a família porque a única pessoa que liga pra você é ele. Em alguns casos o abusador pode até fazer a vítima largar a terapia
Tudo isso tem como objetivo além do isolamento social, o Gaslighting, um tipo de abuso sutil que faz com que a vítima duvide de si e do que está vivendo, ouvindo, pensando ou sentindo. A frase “Você está louca” é o exemplo mais famoso do Gaslighting.
“Eu estava irritado, desculpe!” “Foi você que provocou”
Já ouviu que você precisava mudar o seu jeitinho difícil? Ou até mesmo que todas as atitudes ruins e abusivas que ele toma são consequência de algum ato errado seu? Já pediu desculpas sem ter certeza de que estava errada? Pois é. Essa é uma maneira de culpar a vítima e fazê-la acreditar que todos os erros do parceiro são, na verdade, culpa dela.
Quais as consequências do abuso sutil?
Se você se identificou em alguns dos diálogos acima está na hora de conhecer também as consequências e características do abuso psicológico sutil.
O escalonamento da violência também acontece, mesmo que o abuso fique cada vez mais sutil, já que o abusador vai ganhando cada poder e controle na relação, enquanto a vítima perde o limiar do que é ou não aceitável.
A consequência dessa diferença de poder é o medo. Medo de punição, de brigas e conflitos. Medo de passar vergonha, de contar para as amigas a verdade sobre a relação, de pedir ajuda. Chega um ponto onde a vítima não se identifica mais com quem ela realmente é e se questiona se o que está vivendo é real ou loucura da sua cabeça.
O sentimento é de culpa, tristeza, dúvidas, confusão mental. Perde-se a privacidade, a individualidade, a identidade e o outro se torna a referência para a sua vida e o seu comportamento. O resultado disso é pedir desculpas por um erro que não cometeu, fazer de tudo para que o relacionamento dê certo e, ao mesmo tempo, sentir que nada do que você faz é suficiente ou correto.
O abuso sutil nos prega peças
Por ser sutil, esse tipo de abuso faz com que as vítimas não se reconheçam verdadeiramente como vítimas.
Quanto mais sutil, mais difícil a identificação e, às vezes, mais culpa, mais confusão, mais esperança. Mas atenção! Um abuso onde não há agressão física, pode também evoluir para abuso físico, sexual, patrimonial, financeiro e tecnológico.
Lembre-se de quem você é
Em uma relação abusiva você não pode ser você mesma e tem medo de ser autêntica, de expressar suas ideias e defender seus direitos. Lembre-se da mulher que você era antes de entrar nesse relacionamento, da sua força, sua personalidade e suas vontades.
Procure ajuda para resgatar a coragem de ser você e ajude outras mulheres a encontrarem também. Juntas somos mais fortes!